Os pontos de referência usados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas não são representativos dos progressos feitos pelos países da África e contribuem para o estereótipo do “fracasso africano”, segundo a norte-americana Instiutuiçao Brookings.
“Há esta máquina das metas que converte as boas notícias sobre a África em notícias ruins’, disse o autor do estudo, William Easterly, economista da Universidade de Nova York e professor convidado do Programa sobre Economia Global e Desenvolvimento da instituição Brookings. “A África tem problemas suficientes para que as organizações internacionais e os organizadores de campanha minimizem seu progresso”, acrescentou.
Um ponto-chave destacado pelo estudo é o fato de a Organização das Nações Unidas originalmente ter fixado as metas como uma série de pontos de referência para medir o progresso mundial, não de países ou regiões, afirmou Easterly. Portanto, os resultados de um país perdem valor quando são medidos pelos indicadores globais. Com isto concordam Jan Vandemoortele, funcionário da ONU que co-presidiu o grupo especial, formado por membros de diferentes agências das Nações Unidas, que desenhou as metas em 2001.
“Apenas se pode calcular se o progresso está em marcha para atingir os Objetivos de 2015 em nível global”, escreveu Vandemoortele em um ensaio de 2007 para o instituto Mundial de Pesquisa sobre Desenvolvimento Econômico da ONU. “Não se pode fazer para nenhuma região nem país em particular porque as metas quantitativas foram fixadas em linha com as tendências globais, não com base nas tendências históricas especificas” de um lugar, acrescentou.
Entretanto, esta é precisamente a forma com que as metas têm sido aplicadas nos últimos anos, disse Easterly, que apresento na semana passada os resultados de sua pesquisa. De fato, os informes anuais da ONU sobre o progresso nas metas são oferecidos por região e não por país. Segundo o informe de 2007 sobre a África, “a região subsaariana não está no caminho de alcançar os Objetivos”. Esta conclusão não considera os diferentes níveis entre os países, explicou Easterly, acrescentando que os pontos de referência dessas metas supõem desafios altamente desproporcionais para as nações mais pobres contra os que já têm um desenvolvimento maior.
Segundo o estudo, um exemplo é o quarto objetivo, que fala m redução de dois terços da mortalidade infantil. Isto pode supor um grande desafio para um país que tem uma taxa de 150 mortes por mil, mas não tão grande para outro com índice de 24 por mil, por exemplo. O primeiro deve reduzir sua taxa em cem mortes, enquanto o segundo apenas 16 para atingir o Obetivo.
Além disso, o primeiro Objetivo, que busca reduzir a pobreza extrema em 50%, pode ser muito mais facilmente alcançado por uma nação com menor porcentagem de pobreza. Dois países com a mesma taxa de cresciemento do produto interno bruto no mesmo período de tempo podem acabar com significativamente diferentes porcentagens de reduções, diz o estudo.
O PIB da África cresceu a uma taxa “eminentemente respeitável” de 5,4% em 2006, segundo o estudo. Mantido este ritmo de crescimento por 10 anos, o continente africano conseguiria um dos cinco maiores crescimentos econômicos registrados entre 1965 e 2005. “Estão pedindo à África algo que não tem precedentes históricos. É uma boa maneira de pegar o sucesso e chamá-lo de fracasso”, disse Eastrly. (IPS/Envolverde)(FIN/2008)